Os animais da minha avó
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Imagem gerada por IA. |
Dizem
que os mais antigos tinham hábitos bastante incomuns, pelo menos para nós deste
século pós-moderno. Deve ser verdade. Eu não havia reparado, mas, lembrando da
minha avó, acho que quem diz isso tem razão.
A
minha avó, por exemplo, tinha uma criação de urubus. Como se não fosse estranho
o bastante, ela não tinha só alguns, mas onze. Segundo ela, o objetivo era que
os urubus se livrassem das sujeiras que os outros bichinhos faziam.
Digo
isso porque, além de criar seus onze "panos pretos" (como a gente os
chamava, por causa da aparência dos urubus), ela ainda tinha, no terreno do seu
sítio, 513 galináceos e 81 asnos. Para complicar, ela mandou buscar esses
bichos nos quatro cantos do país. Não eram todos iguais, e a minha avó dizia
que isso era para evitar atritos, o que, na maioria das vezes, só piorava o
convívio entre eles.
Os
galináceos, dizia a minha avó, "são muito úteis; além dos ovos que uso
para fazer as omeletes que você tanto gosta, de vez em quando pego um e mato
para o almoço de domingo, deixando os urubus cuidarem dos restos". Mas,
chamava a atenção, que muitas vezes, por conta própria, os urubus matavam ou
encurralavam um ou outro bicho distraído.
Os
asnos, segundo ela, serviam para organizar os trabalhos na fazenda (mas não era
um sítio?), já que eram eles que transportavam suas mandiocas ensacadas para a
casa de farinha. E a minha avó era uma das grandes produtoras de farinha do
interior do Nordeste.
"É
melhor ter sobrando do que faltar", disse ela. "De toda forma, eles
não fazem diferença, meu neto. Poderiam ser esses burros, esses cavalos, ou
quaisquer outros que aguentem peso. Afinal, é para isso que eles servem",
disse, sorrindo.
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