O trabalho docente, as pedagogias e a realidade

 

Imagem gerada por IA.

Historicamente, o papel do professor passou por grandes transformações quanto às suas concepções e funções. Sem citar o contexto da nossa colonização e falando de algo mais recente, há poucas décadas ser professor era visto quase como uma vocação sacerdotal. Hoje, a docência está entre as profissões mais desvalorizadas sob todos os aspectos, especialmente no que diz respeito à sua premissa de ensinar.

Primeiro, buscou-se destituir o professor de sua autoridade; depois, tirou-se a exigência de adotar uma pedagogia efetiva, capaz de ensinar de fato. Sim, o professor ensina. E, se não for respeitado também pelo seu saber, não poderá exercer sua profissão adequadamente. Você já aprendeu com algum professor que você não respeitava? Eu nunca.

Sim, há quem saiba mais, há quem saiba menos, e há saberes diferentes. Isso não é ruim, nem diminui ninguém. Caso não houvesse diferenças entre níveis de saberes e saberes distintos, qualquer um poderia ministrar aulas numa pós-graduação, por exemplo. No entanto, a própria lei reconhece que o estudo e o saber são essenciais em matéria de docência. Sei, logo ensino.

Comentando a pedagogia tradicional

Critica-se sobremaneira a pedagogia tradicional, mas a geração que passou por essa tendência, curiosamente, aprendeu a ler, escrever e adotar comportamentos dignos em matéria de respeito humano. Paulo Freire tinha sua legitimidade ao tecer críticas aos seus professores, visto que pensar não é crime. Entretanto, foi essa pedagogia que ele tanto condenou, que deu ao “ícone da academia” a capacidade de entender o mundo a sua volta.        

Como eu explico um professor de graduação que critica os métodos tradicionais, mas os utiliza para me ensinar? Ora, isso é bem simples: o "fazer" mostra-se inimigo da teoria. Mais que isso, destrói o discurso, visto que, ao pregar tal prática, ela não é adotada. O motivo? Não funcionaria. O saber do professor e os seus "depósitos" são fundamentais para que haja rendimento e lucro.

O professor que já foi receptor do "depósito", agora instintivamente faz os seus, e isso nos permite separar a ideologia da realidade da vida. Ideologias são sonhos, utopias. São boas para as imaginações e alucinações que alguém legitimamente possa ter. Mas quando isso se torna pedagogia a ser seguida pelo professor do mundo real, o que alcançamos é o que temos: insucesso quase absoluto. E somente um maluco continuaria tentando inventar a roda, quando está provado que a roda já foi inventada e sua funcionalidade está absolutamente comprovada para além de quaisquer dúvidas.

Comentando as pedagogias progressistas

De modo geral, elas são um emaranhado de ideias multifacetadas cuja finalidade seria tornar o aprendente alguém crítico. Ou seja, superar o mero aprendizado escolar e se tornar alguém politicamente ativo, politicamente socialista. A prova disso é que não há na academia sequer um pensador cuja matriz pedagógica não tenha como pano de fundo as doutrinas de Marx. Cite um, qualquer um; se está sendo estudado em humanas, ele é socialista.                                                                 

Desde as ideias de alfabetização até os conceitos de sociedade, tudo gira em torno da ótica de algum estudioso marxista, da luta de classes e do embate entre o capitalista e o proletário. Logo, por definição, o que se produz não é conhecimento, mas doutrinação política sob a desculpa de ser uma ciência educativa, absoluta e inquestionável.                                   

Se o aluno não aprende, não há problemas com o sistema, com as metodologias, nem com as didáticas. O problema é social; a culpa é de todos nós, pois o homem não é outra coisa senão um produto do meio, não podendo ser cobrado nem responsabilizado por seus atos, sucessos ou fracassos. Alguém, por certo, tem a culpa, mas não o culpado.

A realidade que não pode ser escondida

Basta olhar para os dados educacionais do país e logo se concluirá que algo está muito errado. Hoje, não faltam escolas, nem professores. As graduações e pós-graduações atendem pelos mais diversos e enfeitados nomes. No entanto, os processos de ensino e aprendizagem não levam ninguém a lugar nenhum, já que não se pode mais exigir algum nível de comprometimento por parte do discente, nem domínio pedagógico por parte do professor. Basta o diploma. Se tem um diploma, logo se infere que também detém as competências exigidas. Uma coisa e a outra se confundem. Não deveria ser assim, mas é.                                  

Outra questão é que se difundiu a ideia de que o professor não é mais o detentor do saber, mas um facilitador do aprendizado. Há algum sentido em certa medida nessa afirmação. Mas o saber do professor importa, e muito. Se nem o professor sabe, como poderá criar meios para o saber do aluno? O que você acharia de ser atendido num posto médico por um pedreiro? Aceitaria? Creio que não. Pois é justamente o saber médico que qualifica o profissional da medicina. Não é uma questão de opinião, mas de ciência.

Como começar a mudança?

Quando o erro está na origem dos processos, ainda em suas concepções, não há como se pensar em sucesso acadêmico de fato. Mas será que não é isso que realmente foi pensado? Pois, se há uma coisa que se tem conseguido, é justamente não conseguir. As escolas, em maior parte, têm se tornado uma grande linha de produção de analfabetos funcionais. O aluno entra sabendo um pouco e sai sabendo dois "poucos". Dois "poucos" que não fazem um suficiente, e o abismo social se aprofunda eficazmente.                                                                                         

Mas convenhamos, há cidadãos mais úteis a um projeto de poder do que os que têm tais características? Irrefutavelmente, não. O sonho de quem desejaria se perpetuar no poder não poderia acontecer sem antes deixar o povo pobre, sobretudo, intelectualmente. Basta que você diga ao ignorante que ele é um sujeito crítico e o convença a lutar contra o "burguês safado".                                                          

Desse modo, o prisioneiro será grato pela própria prisão e, por outro, o Estado ficará feliz com sua diversidade de opções em matéria de massa de manobra útil. A realidade nos obriga a enxergar que está ocorrendo uma aculturação sistemática e programada, e isso se justifica na ideologia fundante das concepções pedagógicas atuais. Educar para crescer, por quê? O homem que cresce e se enxerga como alguém livre e consciente de si não seria facilmente dominado. A educação brasileira se tornou meio de dominação.

 


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