Em Foco: A Valorização do Professor

Imagem gerada por AI.

Que a educação é fundamental para emancipar o cidadão, ninguém minimamente esclarecido tem dúvidas. Historicamente, o Brasil, por meio de suas diversas políticas públicas, vem mostrando saber disso. Mas, diferente do que alguns podem supor, a educação em seu sentido estrito, não acontece por geração espontânea. Ela só ocorre em condições de temperatura e pressão exatas. Não é mágica, é trabalho metodologicamente embasado e executado.

Se precisamos de escolas bem equipadas e em boas condições prediais, também precisamos do professor, figura central do fazer pedagógico. Não importa o tempo nem o lugar, nada substitui o professor; nada substitui sua formação e a excelência de sua função. Afinal, como se diz popularmente, o professor é o único profissional que forma todas as profissões.

Considerando o exposto, esperamos que esta classe seja digna de algum respeito e valorização por parte dos gestores públicos. Esperamos, mas, obviamente, não temos. Algum dia teremos? O que vemos na prática é um tratamento desumano sendo dispensado a essa categoria, especialmente aos que não possuem vínculo efetivo.

Para os que ocupam posição de gestão pública, o professor, mais do que qualquer outra categoria, aparentemente, é alguém a ser combatido, humilhado e rebaixado de várias maneiras. A principal delas, a meu ver, é a questão remuneratória. Eles, os ditos gestores, acham que os professores ganham muito. Mas, ganham? Há algum compadrio ou presente embutido no salário que não reflita o justo merecimento?

Se falamos dos professores efetivos, aqueles que foram contratados via concurso público como prevê a CF/88 e conquistaram estabilidade, estamos falando de uma realidade. No entanto, se nos referimos aos professores contratados temporariamente por excepcional interesse público, a coisa muda muito de figura. Enquanto um profissional efetivo recebe em média três mil reais brutos, ao contratado, o que resta é menos de um salário mínimo, ainda que ambos exerçam exatamente a mesma função, no mesmo local, sob as mesmas exigências.

Quanto recebe um professor contratado na maioria das vezes? Menos de um salário mínimo. Salário esse que fica ainda menor quando são descontados os impostos e obrigações previdenciárias. Como justificar algo deste nível? Como explicar à luz da legislação e da dignidade humana? O que se tem feito com os professores contratados beira a humilhação e o desprezo. Afinal, por que tanta disparidade? 

Como sabemos, os professores, até mesmo os contratados (dá pra acreditar?), têm necessidades humanas básicas a serem supridas. Necessidades essas que deveriam, em tese, ser supridas com o próprio salário. Mas quem disse que isso acontece? Os professores, além das obrigações comuns, têm ainda a sobrecarga de terem que pagar por quase tudo o que acontece nas escolas com seus salários de miséria. Com o perdão do termo.

Veja uma relação de eventos nos quais os professores precisam tirar do próprio salário para não verem seus alunos sem assistência:

  • Recepção: primeiro dia de aulas
  • Páscoa
  • Dia das mães
  • São João
  • Dia dos pais
  • Dia do estudante
  • Dia das crianças
  • Encerramento

 

Só para constar, esses podem ser apenas alguns gastos de um professor durante o ano. Isso sem falar nos materiais didáticos que precisará comprar se quiser dar uma aula que supere o quadro e o livro. Se esses gastos são altos para qualquer professor, imagine que os mesmos “investimentos” deverão ser feitos por um profissional contratado que recebe muito menos. Dá para decidir não fazer? Claro que não! Se todos lavarem as mãos, o que será das escolas?

Concluo dizendo que não dá para aceitar essa realidade como algo normal. Não num país com uma constituição promulgada, com diversas outras leis regulatórias. Essa cultura de exploração precisa acabar.

Cabe aos nossos legisladores tomarem uma posição quanto a isso. Como alguém pode esperar que um professor tenha um bom desempenho se ele precisa escolher entre comer e vestir ou gastar com os próprios alunos?

É uma matemática que caminha pelo campo do impossível, da loucura. Não podemos acreditar que, na mesma função, há quem mereça receber bem e quem deva receber mal. Não se pode cobrar resultados quando não se oferecem condições minimamente dignas para o exercício da função.

Os problemas são muitos, as demandas são complexas e, veja bem, aqui eu não vou falar da compra de apoio político em troca do ganho de alguns e dos futuros de muitos outros. Até quando se fará vista grossa para esse absurdo inominável?

 


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