A peculiar democracia brasileira
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Uma
das coisas mais estranhas da "democracia brasileira" e,
aparentemente, algo unicamente nosso, é a exorbitância de entrevistas de alguns
dos atuais componentes da Suprema Corte do Brasil.
Inexplicavelmente,
os ministros, que deveriam desempenhar o papel de juízes e última instância do
Judiciário, corrigindo possíveis equívocos e excessos, não se cansam de
aparecer e opinar em absolutamente quaisquer pautas — papel que legalmente não
lhes cabe e, ainda que coubesse, para garantir a isonomia, deveriam se abster,
caso se preocupassem com a reputação da Corte.
Assistir
ao telejornal e não ver ao menos cinco ou seis matérias sobre algum ministro e
suas declarações ou piadas (inacreditavelmente) tem sido praticamente
impossível nos últimos anos. Eles adentraram, de uma vez por todas, as raias
políticas e gostaram de ampliar o próprio poder. E, com a bênção da grande
mídia, o céu parece não ser o limite.
Os
juízes, que obviamente não são políticos de fato, tomaram o protagonismo que
antes tinha como endereço o poder Legislativo, envergonhando e diminuindo os
reais e legítimos representantes do povo, que a cada dia têm se tornado mais
irrelevantes, posto que tudo o que eles fazem, decidindo em centenas, pode ser
desfeito por apenas um com uma canetada.
Eu
desprezo a maioria dos políticos brasileiros, mas me frustra imensamente, como
cidadão, saber que estão de pés e mãos atados, tendo as suas competências
vilipendiadas. Me choca muito mais que, opondo-se à Constituição, os
legisladores não defendam suas prerrogativas.
A
balança do equilíbrio entre os poderes está desequilibrada, visto que o mesmo
juiz que opina e analisa publicamente questões de outro poder é também o que
julga na sequência, expondo, então, que há uma vantagem indevida no processo. O
que sufoca a democracia e espanca a soberania popular.
Em
países sérios, os juízes não têm opinião pública nem publicada. Ninguém deseja
saber o que pensam sobre absolutamente nada, exceto quanto às suas decisões e à
base legal a elas aplicadas.
Não
somos um país de juízes; somos um país de leis. Leis essas que devem ter o
mesmo peso para todos, de modo a assegurar os direitos fundamentais, sobretudo
de um julgamento imparcial, cuja decisão seja exarada do texto legal e não da
ideologia de um juiz que ocupa uma função pública, mas não pode ser confundido
com ela.
Fazer
política é uma atividade absolutamente legítima a qualquer homem. No entanto,
seu fazer deve ocorrer no lugar certo e com os mesmos direitos e poderes. Sem
equilíbrio entre as partes, não se pode falar em justiça, mas em árbitro. No
Brasil não há reis; há três poderes que deveriam funcionar de modo harmônico e
autônomo.
Enquanto
esse ideal não for alcançado, nossa democracia continuará sendo relativa,
dependendo da visão do observador, sem quaisquer amparos na legislação nem no
próprio conceito que a define, mas na decisão pessoal daqueles que aplicam as
leis. Leis existem para assegurar o bem social e não para empoderar
determinadas figuras que se vestiram de figura messiânica e únicas capazes de
agir e defender a democracia.
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