As Torres

 

Imagem gerada por IA.

Eram três as torres, e de longe eu já as podia ver. Mas, na verdade, elas podiam ser vistas de qualquer lugar do mundo e por qualquer pessoa, bastando apenas direcionar os olhos.

Uma delas, porém, era a mais alta de todas e ficava ao centro. De tanto que havia crescido, chifres surgiram sobre ela, e esses chifres impediam as demais de crescer. Na verdade, eles as estavam sufocando.

A sua aparência era de não ser fruto de mãos humanas, já que nela habitavam figuras de aparência horrenda que só eram vistas em ocasiões muito especiais.

Nas outras duas, havia seres pequenos, muito semelhantes a roedores. A certeza que eu tenho é que eles faziam muito barulho, mas nada além disso, pois, por estarem apequenados e até presos, eram incapazes de reagir. Só gritavam, e como gritavam!

Quanto à sua construção, a torre da esquerda era feita de barro e estava cheia de rachaduras. Como permanecia de pé, ninguém sabia explicar. A da direita era de madeira vulgar, dessas que se quebram facilmente. Mas a do meio, a mais imponente, era totalmente de marfim, o mais puro deles.

Na face dos seus moradores, o que mais chocava eram as suas expressões: elas eram medonhas e carregavam em si uma mensagem de absoluta loucura e terror. Só mesmo as pessoas com um coração semelhante ao deles tinham condições de encará-los. Essas tais sorriam para as criaturas, que, em contrapartida, lhes jogavam migalhas do seu alimento.

— Comam, meus bichinhos, alimentem-se. Vocês têm muito trabalho a realizar — diziam eles ao mesmo tempo e a uma só voz. Já não tinham preocupações com os seus patrões; agora estavam acima de tudo. Só mesmo o céu os podia superar.

Eram reis, deuses, magos? Ninguém sabia defini-los com certeza. Ainda assim, muitas aves de rapina voavam sob os seus queixos orgulhosos e sujos, colhendo e levando cada uma de suas palavras. Desejavam, ainda que por um segundo, serem notados. E, quando isso acontecia, gargalhavam descontroladamente.

Quando aquelas criaturas abriam as suas bocas, soberbamente tentavam fazer crer que conheciam todos os assuntos e que nenhuma das ciências lhes escapava. Os seus pitacos soberanos e delírios arrogantes recebiam aplausos, mas estavam carregados de veneno mortal. E ai de quem ousasse fazer contestações.

Eu, porém, daqui do alto, os via como realmente eram e, acreditem, eles eram muito pequenos. Estendi a minha mão e, com o meu dedo indicador, toquei nas três torres. Uma após a outra caiu, mas a que estava no meio caiu primeiro, pois, apesar da sua aparente firmeza, estava toda podre por dentro.

Se deseja saber quem sou eu, quero lembrar que já sou vivida, tenho milhares de anos, mas renasço todos os dias no coração dos que amam a liberdade e a justiça. Já me chamaram de inspiradora, de única saída, mas o meu verdadeiro nome é democracia.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Memorável: Gameleira, Pernambuco, elege a vereadora mais votada da sua história

Em Foco: A Valorização do Professor

Uma pandemia de diagnósticos