Duplipensar: quando a hipocrisia atinge níveis supremos
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Imagem gerada por IA. |
O
termo "duplipensar" é um conceito popularizado pelo autor de ficção
George Orwell em sua obra 1984. Na obra, que mais parece um retrato
do mundo atual, o autor apresenta um mundo no qual crenças divergentes são
aceitas socialmente como verdadeiras. 1984 ou 2024?
Trazendo
para o nosso contexto e aplicando ao mundo da política, por exemplo, o mesmo
ente político poderia defender duas causas antagônicas sem constrangimentos.
Para ficar ainda mais claro, um candidato poderia se vender como defensor da
vida em sua concepção enquanto cria um projeto de lei para liberar o aborto sem
quaisquer restrições.
Poderíamos
dizer tratar-se de um ato de hipocrisia, mas, dentro do ideário desse político,
tanto uma coisa quanto a outra podem ser entendidas e validadas, ainda que se
anulem mutuamente. Dessa forma, a verdade dos fatos já não necessita ser real,
apenas parte de uma crença particular. A realidade, neste cenário, já não é a
realidade, mas o desejo do indivíduo.
Um
fato, dentro da visão duplipensalista e que ganhou as mídias nos últimos
meses, foi o caso do antissemitismo praticado dentro de universidades
americanas frente ao cenário de guerra entre o grupo terrorista Hamas e Israel.
Curiosamente, as universidades não ficaram ao lado dos judeus vítimas de
perseguição, mas se reservaram a dizer que "tudo é uma questão de
contexto".
Segundo
esse argumento, podemos inferir que não existe o bem nem o mal; basta que você
explique as suas ações dentro de uma suposta lógica — mas tem que ser uma
"lógica crítica". Os fatos já não importam; o que vale é compreender
as ações do agressor. Quem sabe ele apenas não está devolvendo uma agressão?
Se
você não conhecer a ideologia que sustenta tal discurso, poderá achar que está
vivendo em um mundo paralelo no qual todos estão malucos, mas, na verdade, tudo
tem fórmula e método. Trata-se de uma engenharia social muito bem estruturada,
cuja função é fazer a população tirar o foco da realidade e se ater às
narrativas inúteis.
Enquanto
o povo está preso a discussões nas redes sociais, os donos do poder fazem
avançar as suas pautas, tirando-nos, em fatias, as nossas liberdades. Liberdade
até mesmo de pensar. Há direito mais humano do que este?
Veja
outros exemplos comuns de duplipensar que estão em voga:
1.Afirmar
que homens biológicos podem ser mulheres.
Mas
isso é mesmo verdadeiro? Um homem pode vir a se tornar uma mulher caso deseje?
Há alguma base científica nisso? Todos sabemos que isso jamais poderá ser real.
Ainda assim, por causa das narrativas oficiais, somos coagidos a negar o que os
nossos olhos estão vendo.
2.Defender
a democracia e aliar-se a ditaduras.
Um
político que realmente defende a democracia, tal como concebida, deveria ser
aliado e apoiador de países ditatoriais? Não fica explícito que o discurso e a
prática não convergem? Ainda assim, há quem jure de pés juntos e contra todas
as evidências que tais figuras são democráticas.
3.Dizer
combater notícias falsas enquanto mente o tempo todo.
Que
o jogo político tolera narrativas e sempre se fez desse modo, não há quem
negue. No entanto, quando falamos em dados oficiais, não deveria a verdade ter
a primazia? Os nossos políticos vivem de divulgar números fantasiosos, mas quem
disse que os seus apoiadores ousam reconhecer o fato?
4.Chamar
de educação crítica uma educação totalmente doutrinária.
O
nosso sistema educacional jamais produzirá pessoas críticas, pois ele se firma
na premissa de que o estudante é um ser oprimido a priori. Dessa forma, ao
tentar libertá-lo da influência da sua família e crenças, não pode ser chamado
de libertador, mas de doutrinário e autoritário.
5.Falar
em liberdade de expressão enquanto cria mecanismos para tolher essa liberdade.
Temos
ouvido nos últimos anos, por figuras eminentes do cenário político, que o povo
não pode ter liberdade de dizer o que pensa e que isso não é mais aceitável.
Mesmo assim, tais figuras afirmam que tudo que fazem ao perseguir e prender
desafetos é pela paz, pela liberdade e pela democracia.
6.Ser
comunista e cristão "graças a Deus".
Mas
o comunismo não é uma doutrina ateísta? Não foi um movimento histórico de
opressão às crenças que matou mais de cem milhões de pessoas e perseguiu e
matou cristãos? Como ser e não ser ao mesmo tempo? Quem domina a linguagem,
domina, de fato.
O
resumo da ópera é o seguinte: estamos vivendo num mundo distópico onde dizer
que a grama é verde pode ser entendido como um "discurso de ódio"
digno não apenas de punições, mas de extermínio. E agora, quem poderá nos
defender?
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