O mistério da verdade e o limite humano
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Imagem gerada por IA. |
A
ideia de pensar por si mesmo é uma farsa, pois pressupõe que o ser pensante
seria capaz de compreender todas as ideias para além delas mesmas. Seria um
existir antes da existência. Ou seja, o tal ser autônomo seria um ser divino e,
não apenas isso, mas o ser divino e criador de toda a existência que o
circunda, uma vez que seria capaz de analisar o referente tendo como fonte a
sua própria natureza.
Ninguém no mundo pensa por si só ou com independência, mas sempre tendo por
base as próprias crenças, valores e interpretações que fez do conhecimento que
adquiriu, estejam esses conhecimentos certos ou errados, sendo eles suficientes
ou incompletos. Mas há conhecimentos completos? Há ser humano capaz de capturar
a verdade sobre algum conceito sem fazer uso dos óculos que alguém criou?
Nem todas as verdades podem ser testadas ou reproduzidas em um laboratório. A
verdade vista muitas vezes trata-se daquilo que os olhos que olharam e o
cérebro que interpretaram viram e decifraram. Eis o mistério da fé. Para que ela
exista, não se pode atestar o mecanismo de maneira absoluta.
O estudioso precisa entender e reconhecer que tudo aquilo que ele sabe é, na
verdade, uma sombra daquilo que o ser de fato é. Sendo assim, se o homem
explicar a Deus e for capaz de defini-lo, este, na verdade, não está falando de
Deus, mas de si mesmo, da própria concepção e compreensão que é capaz de
construir sobre o conceito.
Deus não é explicável, embora possamos senti-lo, servi-lo e adorá-lo. A
limitação do homem não diminui o mistério, mas expõe quem criou e definiu quem.
Na realidade, há uma necessidade de racionalmente reconhecermos que Deus está
além de qualquer explicação razoável ou alcançável pela língua humana. O
produto do Criador, por óbvio, não poderá ter a capacidade de defini-lo. Se
tivesse, seria esse, não um ser criado, mas um divino igual ao do qual veio.
A verdade, portanto, não pode ser encontrada em si nem nas próprias habilidades
de inteligir, por mais extraordinárias que sejam. A verdade, em minúsculas
partículas de partículas, se revela ao ser que a entende. Tal conhecimento não
é transmissível, mas unicamente recebido, numa medida não estipulada pelo
recebedor, senão por aquele que dela oferece.
Lemos, então, não com os signos, mas com os significados que aos signos
atribuímos, baseados nas verdades que nos tornamos capazes de entender e,
portanto, de atribuir significados, explicando-os para além das limitações dos
que ainda não entendem ou pouco entendem.
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