A nossa infância raiz

 

Imagem/Pixabay

As crianças de hoje, muitas vezes, são criadas dentro de uma espécie de redoma. Os pais da geração "Nutella" tremem de medo de dizer ou fazer algo que traumatize os filhos. Isso não é ruim. Mas o excesso de proteção pode ser tão danoso, quanto proteção nenhuma.

Mas antigamente, como se diz hoje, "o bagulho era doido". Muito doido mesmo.

Nós (eu e os meus irmão), por exemplo, nadávamos em açudes e barragens, cheios de jacarés. Era o jacaré passando ali do lado, e a gente se divertindo a dez metros de distância.

Para brincar, usávamos carrinhos de rolimã. Não era apenas uma forma de diversão, mas também de arrancar a pele dos dedos e dos joelhos. Era montar no carrinho, soltar o freio e "segura na mão de Deus e vai".

Se chegássemos inteiros lá embaixo, a gente comemorava; se não, chorávamos, reclamávamos, soltávamos umas palavras mal-educadas e fazíamos tudo de novo. Ansiedade e depressão? Zero.

Quando chovia, a gente não se escondia. Muito pelo contrário: a diversão era correr na chuva. E o melhor vem agora: nem resfriado a gente pegava. Mas, se milagrosamente pegássemos, um chá resolvia.

Se ficássemos gripados, tínhamos um método infalível para nos curar: era só tomar um banho de manhãzinha no rio. Se não funcionasse de primeira, repetíamos o método até dar certo.

Os brinquedos dos meninos eram réplicas de revólver calibre trinta e oito, e, como se não bastasse, a gente ainda ganhava uma cartela de espoletas para completar a experiência. Era pipoco pra todo lado.

As meninas ganhavam uma boneca enorme chamada "Chico", aquela do meme do Zé Neto. Feia de doer. Mas todas tinham uma.

A gente também gostava de doces, mas, claro, o doce daquele tempo era especial: acredite ou não, tinham o formato de revólver, e em tamanho real.

O bullying, então, corria solto. Ser chamado de "baleia" e de "Faustão" eram apenas dois dos apelidos que eu recebia. Outros tantos, prefiro nem mencionar.

Da infância, eu não guardo traumas; guardo saudades. Que tempo bom, que não volta mais! Se eu pudesse, voltaria lá, ainda que fosse só por um dia.

 


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