Pais Superprotetores

Imagem gerada por IA.

Um dos sinais mais evidentes da disfuncionalidade gritante da sociedade atual manifesta-se justamente no contexto familiar.

Dois fenômenos, em particular, são bastante perceptíveis: a desconstrução do arranjo familiar tradicional (pais, mães e filhos) e a postura de pais que gastam tempo e energia em uma empreitada quase distópica para impedir que seus filhos enfrentem quaisquer dificuldades.

Se olharmos para a educação autoritária recebida pela geração das décadas de 1980 e 1990, podemos vislumbrar possíveis justificativas. Quem nunca ouviu alguém dizer: "Eu não quero que meus filhos passem pelo que eu passei"? No entanto, todo excesso traz malefícios. A proteção excessiva, em vez de ajudar, pode impedir que crianças e adolescentes se desenvolvam de forma adequada.

Do ponto de vista do neurodesenvolvimento, proteger excessivamente impede os jovens de desenvolverem habilidades fundamentais de autorregulação. Mas o que é autorregulação? Trata-se da capacidade de identificar e controlar as próprias emoções, agindo corretamente em contextos desafiadores. Isso inclui, por exemplo, não retribuir um insulto com violência ou não se abater diante de uma crítica.

Todos nós, pessoas neurotípicas, nascemos com a potencialidade da sociabilidade. No entanto, essa habilidade precisa ser desenvolvida — e isso exige treinamento, ou seja, educação. Os pais, como educadores primários, não devem apenas evitar que os jovens enfrentem situações de risco, mas também incentivá-los a superar medos e encarar desafios com autoestima.

A superproteção, longe de ser um gesto desejável, compromete o desenvolvimento natural, que só pode ocorrer por meio das experiências proporcionadas pelos diferentes contextos sociais. Essas vivências, em vez de nos destruir, são fundamentais para nos preparar para a vida.

Como aprendemos a lidar com frustrações? Sendo impedidos, desde a infância, de fazer tudo o que queremos. Como aprendemos a gerenciar a raiva? Sendo educados a refletir sobre as consequências dos nossos atos e a não retribuir agressões.

Tudo isso passa pelo caminho da educação — mas não qualquer tipo de educação. Trata-se de uma abordagem equilibrada, que encontra um ponto entre o cuidado e a autonomia. Sem esse equilíbrio, o resultado inevitável será uma geração de adultos disfuncionais: pessoas que, quando não estão emocionalmente instáveis, tornam-se incapazes de cuidar de si mesmas.

 

 

 


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