Educação Neutra: Uma Impossibilidade Lógica

Imagem gerada por IA.

Como sabemos, não existe educação neutra. Toda ideia educativa busca formar um determinado tipo de indivíduo. Nesse contexto, tanto o que aprendemos em casa durante a infância quanto o que absorvemos na escola ou na igreja constituem modelos de ser humano a serem seguidos. Em alguma medida, todos estamos sendo direcionados.

Por isso, falar em educação sem doutrinação é simplesmente impossível. Toda tentativa de educar parte de verdades consideradas absolutas. Ou seja, ao final do processo, mais do que a busca por um comportamento desejado, espera-se a internalização de uma crença vista como uma verdade última. Toda educação, portanto, tem um caráter doutrinário.

No contexto familiar, essa doutrinação não apenas é esperada, como desejada. Quando ela não é percebida, há frustração. Como sociedade, esperamos que os pais eduquem seus filhos para que compreendam que o mundo não lhes pertence e que fazem parte de um todo — não são donos de tudo.

No ambiente escolar, por outro lado, espera-se que o professor seja o mais neutro possível, especialmente em questões políticas e religiosas. No entanto, isso também é inviável. A formação dos professores não é neutra, e os conhecimentos transmitidos, salvo raras exceções, também não o são.

Para contextualizar, vale lembrar que a ciência hoje não se limita apenas ao que pode ser reproduzido, observado e comprovado. Muitas vezes, substituímos a ciência empírica pelo chamado “consenso científico”. Evidentemente, essa questão é controversa e até ilógica, mas é o caminho atual da sociedade. Se algo é apenas consenso, deixa de ser ciência plena ou, no mínimo, apresenta falhas em algum ponto essencial.

O papel do educador deve ser o de oferecer uma abordagem genuinamente democrática e ética, sem anular o outro no processo de aprendizado. Se indico um único caminho, estou me colocando como um guia espiritual; mas se apresento múltiplas possibilidades, estou promovendo o espírito científico — que trabalha, antes de tudo, com perguntas, não com respostas.

Essa é a única neutralidade possível: sair do campo da pseudodemocracia e entrar na prática da emancipação intelectual. Permitindo que os ouvintes de algumas verdades se tornem pesquisadores e questionadores ávidos. Somente assim é possível alcançar algum nível de liberdade. Mas isso já é assunto para outro texto.


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