Os gados e os jumentos

Imagem gerada por IA.
Fonte/inspiração/Johannes Vermeer 

De modo geral, o brasileiro não é muito afeito ao debate de ideias. Por isso, sempre enfatizamos que política e religião não se discutem. Mas, obviamente, para se chegar a essa conclusão, houve um debate. Debate que, como se um concílio fosse, promulgou "a verdade a ser seguida".

Se tivéssemos essa competência, poderíamos pensar com alguma autonomia sobre pautas do nosso interesse, mas, ao invés disso, nos tornamos fãs daqueles cujos mandatos nos pertencem e, ao invés de olharmos na mesma direção sempre que possível, esbofeteamos a democracia, desprezando o quão ela é benéfica.

Em matéria de políticas, especificamente, não temos a cultura de debatê-las, mas de apoiá-las ou defenestrá-las cegamente, de acordo com o governante da vez. Não costumamos olhar os efeitos práticos, mas qual partido a propôs.

Logo, se não foi o meu partido, não importa quão boa seja uma ação governamental, eu me obrigo a questioná-la, ainda que não tenha mínimas razões para isso. Já se a ideia vier de um partido com o qual coaduno, não importa o quanto seja prejudicial, nos dispomos a defendê-la. Quando agimos assim, impomos aos nossos cérebros a ignorância como resposta.

Por assim dizer, nos comportamos de fato como se fôssemos animais. De um lado estão os gados, do outro, os jumentos. Bois e jumentos não se entendem por não falarem a mesma língua. Por essa causa, como nação, nos dividimos. Todos perdemos, exceto aqueles que se aproveitam dessa divisão para impor as suas vontades.

Na maioria das vezes, não discutimos políticas, mas políticos, e, como se estivéssemos na arquibancada de um clássico, torcemos cada um para um lado, enquanto o país afunda na corrupção, na incompetência e no empobrecimento. Especialmente o intelectual, que, por sua vez, é a razão de todos os outros.

Se juntos venceríamos, separados produzimos eficazmente a pior geração de políticos da história e também a pior sociedade. Por isso, somente gente da pior espécie é eleita, e seguimos numa eterna espiral de fracassos, onde o pobre segue pobre, o rico segue rico, o jumento segue jumento e o gado segue gado. Até quando?

 

 


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