A pessoa e o personagem

Imagem gerada por IA. 
Estilo da pintura: Monet

Todos nós somos únicos. Ninguém é igual a ninguém. Por isso, é comum que, mesmo em famílias onde os filhos foram criados sob a mesma educação, cada um tenha uma personalidade distinta. Também é natural que, às vezes, entremos em conflito com pessoas muito diferentes de nós. Gostamos de nos apreciar, mas nem sempre estendemos esse apreço aos outros.

Todos somos pessoas e, ao mesmo tempo, personagens. A pessoa reflete nossa essência e personalidade; o personagem, por sua vez, é a ideia que temos de nós mesmos e a maneira como agimos em diferentes situações da vida. É como escolhemos nos apresentar ao mundo. Por isso, buscamos mostrar nossa melhor versão, mesmo que ela nem sempre seja a mais aceita.

Aos nossos próprios olhos, somos alguém. Já na visão dos outros, podemos parecer alguém completamente diferente. Assim, somos muitas coisas ao mesmo tempo: algumas que conhecemos e outras que apenas quem nos observa percebe. Nós nos lemos, mas também somos lidos.

A grande questão é que nos enxergamos de dentro para fora. Para definir quem somos, baseamo-nos no que vemos, sentimos e sabemos sobre nós mesmos. Já as pessoas ao nosso redor nos veem de fora, sem conhecerem nossas vivências — os elementos que moldaram nossa personalidade.

Quando os outros tentam nos interpretar e concluir quem somos, podem errar profundamente, especialmente se estivermos desempenhando um personagem. Quantas pessoas deprimidas não demonstram estar sempre felizes? A pessoa alegre, nesse caso, é apenas um personagem — uma forma de se proteger, de esconder suas fragilidades.

Quando julgamos alguém, usamos nossas próprias vivências como base, nossas experiências e bagagem emocional. No entanto, o que somos não é uma verdade universal; é apenas a nossa verdade. É claro que há situações evidentes e dedutíveis, mas, quando se trata da humanidade, não existem regras que expliquem tudo.

Pergunto-me frequentemente: será que alguém é realmente conhecido por outro? Será que alguém se deixa conhecer por completo? E será que alguém se conhece plenamente? A vida é um constante processo de descoberta e redescoberta, mesmo que existam aspectos em nós que jamais mudarão.

Se eu pudesse dar um conselho a quem reflete sobre este tema, seria: não tente despir ninguém. Dê tempo para que o outro escolha se revelar, caso queira. E, se não quiser, tudo bem. A beleza dessa jornada chamada vida está em se descobrir, em despir-se para si mesmo e melhorar aquilo que pode ser aprimorado.

Somos, na verdade, cegos que acreditam enxergar e sábios que pensam saber. Somos pessoas e personagens. E somos bons nisso.

Somos um rosto com muitas faces — não faces falsas, mas diferentes aspectos da mesma pessoa. Todos sorrimos, choramos, temos dias bons e ruins. Em cada dia, um novo ato; em cada ato, um novo ser; e, em cada ser, o mesmo personagem tentando existir, se reconhecer e fazer o melhor que pode.

 

 

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