O bom uso da Bíblia

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Dizem que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose que ingerimos. O que é mesmo verdade se considerarmos que grande parte dos medicamentos mais utilizados por nós para combater diversas doenças tem sua origem em substâncias que, em altas doses, podem matar.

Aplicando o mesmo conceito à Bíblia Sagrada, podemos dizer que ela pode ser tanto usada para o bem quanto para o mal, tanto para dar a vida quanto para tirá-la. Tudo depende do uso (interpretação) que dela é feito. O verdadeiro crente e o fanático subsistem nessa lógica.

Como ouvi certa vez, a Bíblia é um livro para combater pecados e não para inventá-los. Quando não temos essa consciência, o livro sagrado é usado para condenar coisas que nem ele mesmo condena, cabendo ao aplicador do texto fazer a interpretação que melhor lhe convier, adequando-o ao seu desejo, sem se preocupar com a real mensagem transmitida.

A regra de ouro da interpretação bíblica é: todo texto sem o seu contexto vira pretexto. E, nesse pretexto, cabe exatamente tudo que alguém decidir introduzir. Não entender minimamente essa verdade pode tornar o "pregador" um instrumento da própria ignorância, quando não do próprio diabo. Vide as seitas.

Cremos que o evangelho e os seus princípios nunca devem ser negociados. No entanto, o real significado dos textos também não pode ser manipulado para defender pontos de vista denominacionais. O homem não salva o homem, e a conjuntura cultural não santifica ninguém. Santidade somente é alcançada pela Palavra.

O que ocorre é que, muitas vezes, movidos por uma religiosidade não bíblica e até mesmo fanatizada, podemos ser levados a trocar as tradições humanas pela Palavra de Deus, anulando assim a verdade de Deus e substituindo-a por aquilo que nos parece bom e certo.

Em contraponto a esse equívoco, cumpre enfatizar que, na sabedoria humana, não mora a verdade divina. Muito pelo contrário, por causa da nossa natureza caída, tudo que realmente queremos é desobedecer a Deus. E, se não fosse a sua Palavra tal como consta escrita, não haveria nenhuma esperança para nós.

Em matéria de usos e costumes, por exemplo, fomos condicionados a pensar que ser santo significa ter uma aparência de piedade. Mas, na verdade, tal conceito não tem a sua origem nos escritos divinos, senão em nós mesmos. Isso é gravemente pecaminoso, pois nos coloca como criadores de um deus e não criados por um.

O homem usar um calção ou uma mulher usar brincos e maquiagem, por exemplo, não pode ser chamado de pecado, pois, para que haja pecado, é necessário que haja a quebra de um princípio divinamente estabelecido. Não havendo o princípio, logo não pode ser quebrado, e, por isso, não há do que se falar em termos de transgressão.

Pense na lei. Para que um crime exista e seja punido, é necessário que haja uma prescrição anterior. Não havendo lei que condene, não há crime a ser punido. Da mesma forma, em termos bíblicos, chamar de pecado o que Deus não chamou seria como agir fora da lei, colocando-se, inclusive, acima dela. Logo, em vez de bons cristãos, somos fora da lei.

Ou seja, partimos de um ponto em que a justiça já não é um princípio superior a nós, mas somos nós mesmos que nos tornamos a justiça. Tal comportamento, mais do que contraditório em essência, configura-se como um pecado grave. Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Não podemos tentar substituí-lo.

A culpa e os julgamentos que são feitos nesse sentido são, na verdade, uma cruz que o evangelho não impôs, mas uma carga preparada por homens que leram uma coisa na Bíblia e entenderam outra. Tais homens são bons em seguir princípios humanos, mas terríveis em guardar preceitos divinos. O próprio Cristo denunciou isso. Leia o evangelho de Mateus no capítulo 15.

Quando a Bíblia foi escrita, já havia uma cultura muito bem definida, com uma moda muito bem clara. No entanto, sabemos que, para seguir a Cristo, não precisamos nos adequar aos costumes dos judeus de dois mil anos atrás.

A cultura é, sim, importante, mas o seu único papel em questões soteriológicas é exatamente nenhum. Não podemos abrir mão, isso sim, do bom senso e do cuidado em não causar escândalos aos irmãos na fé. Isso, sim, seria um pecado. Mas não podemos usar a Bíblia para justificar aquilo que nós mesmos criamos.

Em questões de costumes denominacionais, não podemos julgar a fé de alguém pela aparência que esse carrega, mas pela transformação de caráter que possui. Para tanto, precisamos romper com a cultura do julgamento hipócrita e com a loucura de achar que certas roupas ou certas placas são meios de salvação e santificação.

A métrica da perfeita fé é o amor, nunca o julgamento, em especial se este tem como pano de fundo aquilo que cremos e pensamos, mas que não é corroborado pelo ensino de Cristo nem dos apóstolos. A verdadeira fé vem dessa base, jamais de qualquer outra.

Portanto, crenças locais e pessoas não devem ter a última palavra em matérias eminentemente bíblico-teológicas. Nós devemos nos adequar à Bíblia e reconhecer a sua autoridade apostólica, e não tentar adequá-la ao nosso entendimento e aos nossos pensamentos. Toda tentativa de justificar-se perante Deus nada mais é do que um ataque à sua eficiente e insubstituível graça, sem a qual nada podemos ser ou fazer.

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