A culpa não é minha, mas fui eu quem fez
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Imagem gerada por IA. |
Certa mulher, certa vez, me disse o
seguinte: "Eu sei que o meu candidato é favorável ao aborto, e eu sou
contra. Mesmo assim, eu vou votar nele. Não tenho nada a ver com isso."
Para ela, matar crianças no ventre da mãe, extraindo-as aos pedaços, era algo
inaceitável. Ela sequer havia ouvido falar em assistolia (parada cardíaca
causada), um procedimento tão cruel e doloroso que nem mesmo em animais é
aplicado.
Caso você não saiba, a assistolia implica aplicar uma injeção no coração do
bebê ainda na barriga da mãe para levá-lo ao óbito. Falhando a primeira
tentativa, o processo é repetido até que se obtenha êxito.
Mas aquela boa e gentil cristã praticante disse não ter nada a ver com isso.
Afinal, não seria ela a autorizar, mas o político no qual ela votaria. Como não
foi ela, mas o seu político, logo, zero culpa, zero sangue nas mãos.
Agora, ousemos fazer o mesmo raciocínio em outra situação: imagine o seguinte
cenário. Duas mulheres, por qualquer razão, estão brigando na rua. Passa uma
terceira personagem e, vendo a briga acontecer, resolve entregar uma faca a uma
das mulheres.
A mulher armada, agora em vantagem, golpeia a adversária na altura do pescoço e
do coração. Ferida gravemente, ela cai ao chão, ficando ali mesmo, envolta pelo
próprio sangue, agonizando e sem chances de salvamento.
A mulher que deu a faca observa a cena e, como se nada tivesse acontecido,
aguarda a chegada da polícia, chamada por populares. Ao tomar ciência de como o
crime ocorreu, a polícia não tem dúvidas e leva a dona da faca como
participante do crime perante o delegado, que a encaminha ao juiz. Este, por
sua vez, a condena por assassinato.
A mulher condenada sente-se indignada e injustiçada. Afinal, não foi ela a
autora da violência, ela apenas cedeu a arma utilizada. No entanto, está clara
e é inconteste a sua participação no crime. Ela viu a briga, sabia da intenção
da agressora e, mesmo assim, resolveu colaborar para que tudo acontecesse, ao
invés de, quem sabe, tentar evitar.
A omissão e a dissimulação da condenada não foram argumentos suficientes, e o
juiz a julgou e condenou, dando-lhe a mesma pena da autora do crime. Assim
também será a nossa consciência e também o juízo divino. Por mais que tentemos,
com argumentos luciféricos, esconder a verdade dos nossos atos, diante de Deus
ninguém pode mentir.
Ao não tomarmos parte na justiça, tomamos parte no mal. Ideologias podem até
funcionar como anestesia da verdade, como óculos que cegam, mas, no juízo,
ninguém que tenha culpa será tido como inocente. A verdade e o bem, por si, se
justificam. E, ainda que a mentira seja a resposta do momento, ainda assim será
uma mentira. Não lave as suas mãos tentando se eximir, elas ainda estarão sujas.
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