Há escolas que são

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“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” A célebre frase do teólogo e educador Rubem Alves nunca fez tanto sentido nem esteve tão atual como nos dias de hoje.

Digo isso porque, em minha análise, de modo geral, nossas escolas, em muitas situações, transformaram-se em um grande amontoado de pessoas. Nelas, diferentemente do que poderíamos imaginar, dada a sua natureza intrínseca, tudo já está previamente definido — e ai de quem ousar sair da linha. Sonhadores não podem sonhar, exceto os sonhos que alguém já determinou, e poucos são aqueles que ousam perguntar: quem é você?

No sistema, curiosamente, você pode ser levado a esquecer que é uma pessoa, um indivíduo, alguém com personalidade e com direitos. É estranho perceber isso, mas essa é mesmo a realidade. E, quando digo realidade, não me refiro aos discursos acadêmicos carregados de idealismo, mas àquilo que realmente ocorre no chão da fábrica.

Isso não lembra, de alguma forma, as prisões? Não digo apenas no aspecto físico. Isso é assustador, mas, por si só, não define uma prisão. Para que fosse uma prisão, seria necessário que houvesse pessoas pagando por seus crimes após um julgamento justo e um devido processo legal. Nesse caso, o que há são mentes, sonhos e vontades sendo moldados de acordo com os interesses daqueles que detêm o poder.

O intelecto puro, aquele que surge do desconforto do pensamento autônomo e do aprendizado, tornou-se um problema a ser combatido e, pelo bem de todos, ninguém deve ousar ser aquilo que é ou pensar por si mesmo. Há pensamentos que, pelo simples fato de existirem, tornam-se alvos dos mais diversos protestos. O indivíduo não é mais aceito como tal, e tudo virou questão de repressão pura e simples. Mas, claro, sempre há uma justificativa — desde que se tenha alguma habilidade para tergiversar.

Não digo que as escolas não possam ter regras, pois a vida tem regras, e todos lidamos com isso. Mas a questão é: que regras são essas e a que propósito servem? São asas ou gaiolas? Elas têm potencial para prender ou para fazer voar? Se somos uma sociedade de regras, a razão é óbvia: precisamos de ordem. Mas até que ponto é realmente pela ordem?

Muitas vezes, um sistema é tão autoritário que se justifica apenas pelo próprio autoritarismo — nada além disso, nada mesmo. Mais do que nunca, a escola precisa ser pensada e repensada. As relações humanas estão, por vezes, ficando em segundo plano, quando, na verdade, é a inter-relação que faz do prédio uma escola. Quando não estamos abertos ao outro e não consideramos aqueles com quem dividimos os espaços, tudo se resume a: eu mando e você obedece. Eu falo e você ouve. Eu digo e você se cala.

Isso não seria uma gaiola? Insisto: não me refiro aos muros, às grades, nem mesmo às rígidas restrições, que às vezes podem ser minimamente justificadas, mas àquilo que está na “nuvem”, no “brainstorm” — aquilo que não impõe um caminho, mas aponta possíveis rotas. As rotas são muitas, e isso é muito bom. Cada pessoa tem o seu caminho, mas, enquanto seguimos rumo ao nosso próprio destino, por que não podemos nos encontrar?

Às vezes, pode parecer uma escola, mas, na verdade, isso é a vida.

 


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