Educar ou castigar? E por quê?
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Imagem gerada por IA. |
Antigamente,
para educar uma criança ou jovem, os pais entendiam que bater era a única saída
possível. Se os filhos não obedecessem por bem, então obedeceriam por mal —
devido ao medo e à dor que um espancamento poderia causar. As crianças
apanhavam, mas nem por isso eram educadas. E, se obedeciam, era por medo, e não
por terem aprendido alguma lição importante.
Essa
“concepção educativa”, que vem dos mais antigos e foi repassada de geração em
geração, se mantém em muitos casos até os dias de hoje, perpetuando a ideia de
que a única forma de educar é por meio de castigos físicos e humilhações. Há
até quem atribua o bom caráter que possui às muitas surras que recebeu na
infância.
Acreditar
que castigos físicos podem moldar o caráter de alguém é um direito de qualquer
um. No entanto, educar exige muito mais do que isso — implica em mostrar
caminhos e não apenas em impor vontades. A cultura de repensar o ato de educar
precisa ser implementada. Precisamos aceitar que os indivíduos podem mudar e
educar a si mesmos quando estimulados.
É
sabido que a repreensão frente a um ato inadequado, quando ocorrida com
frequência, pode estimular a criança a mudar seu comportamento, assim como o
reforço positivo (estímulo e recompensa) pode colaborar para que um bom
comportamento se repita e se mantenha. Mas afinal, punir é ruim e só piora a
situação, ou tem algum lado bom?
Em
primeiro lugar, precisamos entender que nem sempre uma punição é necessária, e
que na maioria das vezes, uma boa conversa pode ser o melhor caminho para
resolver o problema. Porém, havendo a necessidade real de punir, devemos nos
atentar até que ponto a punição se justifica. Não podemos confundir punição
com vingança. Punir significa promover reflexão, sem causar danos. Já a
vingança tem como finalidade retribuir o mal praticado — ou seja, pagar o mal
com o mal.
Mas
educadores não se vingam de seus educandos; eles orientam quando necessário e
da maneira adequada. Devemos ter o cuidado de não transformar o erro de um
educando (seja ele quem for), em nosso erro. Se não formos educacionalmente
intencionais, e não agirmos com moderação pedagógica clara e objetiva,
estaremos apenas enxugando gelo, perdendo tempo e energia em ações
completamente ineficazes. Muitas vezes, uma boa dose de misericórdia é muito
mais eficiente do que uma punição cuja única função é punir.
Lembro
que, certa vez, durante um desentendimento entre meus alunos, um deles, ao ser
repreendido, disse que eu nunca parava para ouvi-lo e logo ia punindo. A
reclamação do meu aluno me fez perceber que ele realmente tinha razão e que, de
fato, eu não parava para ouvir suas razões. Desde então, nunca mais repeti a
atitude impensada que vinha tendo, mas passei a seguir o devido "processo
legal". Como seria?
Ocorrendo
o problema, as autoridades são chamadas, então se faz uma apuração imparcial e
com base naquilo que prevê a lei. Em seguida, a “denúncia” é apresentada, o
promotor acusa, os advogados das partes apresentam as defesas e, por fim,
novamente não com base em suas opiniões, mas sim nas leis, o juiz prolata a sua
sentença. Trata-se de um processo justo e imparcial, no qual o juízo não é
feito com base no desejo nem nos conceitos e preconceitos do julgador. Assim,
alcança-se a justiça. A saber aquilo que realmente se deseja.
Para
educar, nunca podemos desconsiderar a participação do outro. Afinal, quem educa
não deve ter uma postura autoritária, mas de autoridade e coerência. Muitas
vezes, tudo o que as pessoas precisam para se conscientizarem sobre seus
próprios atos é sentirem-se valorizadas e ouvidas por alguém. Repito: no
processo de educar, não podemos excluir aquele que se pretende educar, pois sem
ele nada poderá dar certo.
Não
existe a possibilidade de obrigarmos alguém a pensar como pensamos ou agir como
queremos. No entanto, se formos capazes de incluir o outro naquilo que
desejamos, então há possibilidades de tudo mudar. Ninguém nasce educado, nem
pronto para a vida. Dependemos do outro, de alguém que seja capaz de entender
que precisamos ser alvos de paciência e empatia. Não se trata de uma tarefa
fácil, mas é necessária. Por isso, além de educar o educando, precisamos educar
o educador.
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