A solução é proibir o celular?

Imagem gerada por IA.

Eu não sei você, mas eu vi com imensa estranheza e preocupação a aprovação da Lei 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares nas escolas de todo o país. Ocorre que, no meu estado, Pernambuco, já foi feito algo semelhante anos atrás. O que mudou depois da lei? Absolutamente nada. Pois, imagine só, os professores já “regulavam” o uso dos aparelhos durante as aulas. 

Sim, nós, os que estamos no chão da fábrica, sabemos que o uso de celulares em sala pode impedir ou atrapalhar a aprendizagem. Por isso, nós o proibimos. Simples assim. Não precisamos de leis, mas unicamente de dois neurônios funcionando. Os celulares não são, não foram e nunca serão um problema. Na pandemia, por exemplo, ele foi uma “solução”. O problema não é intrínseco ao aparelho, mas ao seu uso. 

Também é válido pensarmos que as consequências da proibição imediata podem fazer surgir uma verdadeira crise de saúde mental, algo que, supostamente, se pretende evitar. Nós sabemos que os celulares ocupam um espaço muito grande na vida dos jovens, e que a retirada abrupta pode gerar muita ansiedade. Quem resolverá este pepino? 

Como alguém que já lecionou e que trabalha numa escola, eu fico extremamente aflito com o que pode vir a acontecer. Afinal, esse era mesmo assunto para uma lei federal? Era mesmo uma questão tão urgente a ponto de unir todos os lados do espectro político? Essa união, tão incomum em torno de uma pauta, não lhe deixa com uma pulga atrás da orelha? 

Quantos dos nobres legisladores estiveram numa sala de aula recentemente? Quantos deles sabem exatamente o que se passa dentro das quatro paredes de uma sala de aula? Por que a sociedade não foi chamada a opinar? Alguém realmente pensou na saúde mental dos jovens ao impor uma restrição tão rígida, já que tal medida vai impedir que os jovens registrem muitos de seus bons momentos? 

Não bastava proibir o uso de celulares apenas durante as aulas, como já é feito pelo bom senso dos educadores? Não seria suficiente que as próprias escolas, por meio das suas gestões, resolvessem esse problema? Além disso, que punições que não firam o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) poderão ser implementadas? A questão não é tão simples quanto pode parecer. 

Não é uma demanda que se resolve unicamente com uma lei, a meu ver muito mal escrita e com viés autoritário e burro, com as devidas vênias. Saúde mental importa, aprender importa, no entanto, estamos falando de escolas, de pessoas que poderiam simplesmente, quem sabe, ser educadas. Será que alguém pensou nisso? Será que as escolas estão prontas para essa mudança tão profunda? Em caso de haver problemas, o que será feito e quem fará? 

Como sabemos, os índices de jovens ansiosos e com depressão são extremamente altos, sobretudo nesses anos pós-pandemia. Uma das causas é justamente o mau uso dos equipamentos eletrônicos, porém, para assuntos educativos, a solução é educação e não uma simples decisão de cima para baixo que nitidamente ignora a realidade das escolas atuais. 

Os que celebram a proibição dos smartphones certamente não ficariam nada felizes se a proibição lhes atingisse. Mas como “o problema é o jovem”, tome proibição. Mas eu insisto: que tal educar e restringir de maneira pedagógica? Há quem diga que só mesmo uma lei para resolver. Eu, porém, que já lecionei, sempre controlei o uso de celulares sem necessidade de estar pautado numa lei que mais atrapalha do que ajuda. Para tanto, bastava explicar aos alunos e eles – imaginem só – não apenas entendiam, como seguiam as regras. 

Proibir por proibir, sem antes preparar os indivíduos, sem avaliar os efeitos práticos, não faz nenhum sentido. O problema da educação brasileira não é, nem nunca foi, o celular. Ele vem de décadas, e está fundamentado nas pedagogias praticadas e ensinadas nos cursos superiores. Tudo se resume, por isso, a gestão pedagógica e gestão política, nunca teve a ver com nenhuma tecnologia à qual o povo teve acesso. 


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