Um teatro sem ensaios, mas com tudo combinado

 

Imagem gerada por IA.

Você já teve a sensação de que não conhece as pessoas à sua volta? Se sim, há grandes chances de você estar absolutamente correto. Na verdade, é plausível dizer que você sequer conhece a si mesmo em sua totalidade, pois a vida é um eterno descobrir e redescobrir. Cada situação nos revela um pouco mais de nós a nós mesmos.

Mas, se não conhecemos a nós mesmos, como então poderemos dizer que conhecemos os outros? Cada pessoa carrega consigo a sua máscara — na verdade, uma coleção delas. As que vemos são unicamente as que nos permitem ver ou as que decidimos fingir acreditar. Por isso, confiar cegamente em alguém é, de fato, um ato de loucura, especialmente quando se trata de alguém que você não "conhece".

Antes de tudo, precisamos entender que a maioria das pessoas não gosta da gente; elas nos toleram. Gostam, sim, daquilo que temos ou que podemos lhes oferecer. Na quase totalidade dos casos — conclusão a que cheguei com minhas experiências —, cada um busca unicamente satisfazer os próprios desejos e interesses. Somos apenas estradas para chegar lá.

Não digo com isso que as pessoas sejam proposital e intencionalmente más e perversas ou que lhes faltem virtudes humanas básicas, ainda que isso esteja tacitamente implícito. Na verdade, esse é um comportamento normal e, mais do que isso, um modo operandi esperado. Agir diferente disso é desviar-se da manada, sair da rota, querer ser superior aos demais — algo inaceitável socialmente.

Do ponto de vista da sobrevivência, o lógico é que cada um pense apenas em si mesmo, no próprio prazer. E as pessoas naturalmente fazem isso. É automático. Agir diferente, insisto, é ser anormal. Como diziam os mais antigos: "Farinha pouca, meu pirão primeiro."

Por assim dizer, nada neste mundo é mais falso do que a imagem que temos das pessoas com quem convivemos. Isso, obviamente, não impede que nos afeiçoemos às pessoas próximas, nem que as tenhamos em alto grau de consideração. Ainda assim, tudo não passa de crenças pessoais. O que o outro é para mim nada mais é do que o reflexo das emoções e sentimentos que tenho por ele.

Por isso, o que pensamos dos outros tem unicamente a ver conosco, com o nosso estado emocional. Isso não define quem o outro é. Não por acaso, somos traídos até nas coisas mais frugais. Não que o ser humano viva planejando fazer o mal ao próximo; na verdade, isso é apenas a natureza humana se manifestando.

Quando tiramos as lentes da boa-fé e nos concentramos na racionalidade, naquilo que insistimos em negar, fica fácil perceber que a maioria daquilo que vivemos nada mais é do que teatro — e nós mesmos somos os atores. Mas esses papéis, na maioria das vezes, sabemos que estamos interpretando.

O ser humano é naturalmente incorrigível, egocêntrico e vive uma eterna busca por aceitação. Mas por que aceitamos essas realidades se não são de verdade e sabemos disso? A resposta, a meu ver, é simples: somos eternamente carentes de aprovação — e não de nós mesmos, mas de terceiros. Por esse motivo, muitas vezes entregamos nossa dignidade em troca de migalhas de atenção.

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