O livro, a cadeia e a escola
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Imagem gerada por IA. |
O livro mais lido de todos os tempos, e mais reproduzido no mundo, a Bíblia, ocupa também outro lugar de destaque – o de livro mais odiado da terra.
De acordo com o Guinness, o livro dos recordes, já foram impressas mais de cinco bilhões de exemplares do livro sagrado da fé cristã. Mas o que deveria cacifar a obra como uma das mais aceitas da literatura, teve efeito exatamente contrário. A Bíblia tornou-se livro non grato e os seus leitores, quando praticantes, alvo das mais perversas perseguições religiosas.
Estima-se que no mundo haja, hoje em dia, cerca de duzentos milhões de perseguidos unicamente por serem cristãos. A culpa, óbvio, é da Bíblia, “o livro odiado”. Odiado a ponto de, em muitos países, ser proibido e ensejar prisão e morte.
Em terras brasileiras, não obstante, também há preconceito; ainda assim, há Bíblias para todos os gostos — há até mesmo Bíblias que são contra a Bíblia. Mas o que esse livro tem de tão ruim que causa revolta até em algumas pessoas ditas cristãs?
A meu ver, a resposta está no fato de que, mesmo sendo uma obra de sucesso inegável, o "sucesso" do livro cristão não se deve aos seus textos amigáveis ou fáceis de assimilar, mas justamente ao confronto que ela promove. A Bíblia traz esperança, mas sobretudo, confronto.
Quem gosta da Bíblia o faz unicamente por causa da fé que nela deposita, e não pelo seu tom de autoajuda. Aliás, se tem uma coisa que as Escrituras não fazem, é amaciar o ego humano. Jamais leia a Bíblia nessa perspectiva, ou ficará muitíssimo frustrado.
Apenas mais um livro religioso?
Diferente de outras obras de natureza religiosa, A Bíblia, por assim dizer, desnuda o homem em suas fragilidades. Quem lê a Bíblia sabe: a maior probabilidade é sair de uma leitura com o modo reflexão ativado do que sair feliz e contente.
Incrível mesmo é o fato de o livro odiado e proibido nas escolas, combatido por figuras proeminentes do Judiciário, da política e do meio intelectual, incrivelmente — e paradoxalmente — ser permitido nas cadeias. Lá, ninguém que queira ler este livro será proibido, pois já está provado que ele tem o poder de mudar o homem, transformando sua mentalidade.
Não deveria ser esse um fator de apoio ao uso pedagógico da Bíblia? Tal fato não corrobora a sua eficácia quanto modelador de perspectivas e cosmovisões? A verdade precisa ser dita, esse é mesmo um livro espetacular e pode contribuir de forma efetiva na formação integral do homem.
No entanto, nas escolas, lugar onde os homens são educados — ou deveriam ser —, ter uma Bíblia pode até mesmo gerar ações na Justiça. Sim, os criminosos podem ter acesso livre ao livro sagrado, mas aqueles que crime nenhum cometeram são, por vezes, privados de lê-lo. Este é um problema da natureza humana — e a Bíblia também fala dele.
Como disse certo pensador: a Bíblia é mais atual do que os jornais de amanhã. Nada se compara à Bíblia; quem se aventurou nesta leitura ou parou ou mudou. Essas são as duas únicas possibilidades. Não por acaso, livros de outras religiões são tratados apenas como livros. Já a Bíblia é tida como um perigo. A causa? Ninguém que leia a Bíblia e nela creia, por exemplo, jamais se submeterá ao socialismo/comunismo/progressismo. E isso, é óbvio, não seria bom para o status quo vigente.
Mas, claro, a Bíblia não é rejeitada apenas por supostos intelectuais e autodeclarados socialistas, progressistas e comunistas. Ela também tem o poder de enfurecer certas castas de "cristãos". Uns por não serem cristãos, é óbvio; outros, por, mesmo tendo-a, jamais a terem aberto para ler.
Para muitas pessoas, a Bíblia nada mais é do que uma espécie de amuleto divinamente aprovado. O que é, obviamente, um erro de compreensão absurdamente grosseiro. Mas, quando o assunto é ignorância teológica, a culpa raramente é do ignorante, mas de alguma liderança na qual o ignóbil tem se espelhado.
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