A comida que nós servimos
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Para mim, todo professor pode ser comparado a um chefe de cozinha. Ele pode até não ser o autor das receitas que prepara, mas é o responsável por preparar e servir da melhor maneira os alimentos que serão consumidos. Por isso, o seu papel é tão crucial.
De posse dessa premissa, creio válida, nos cabe uma análise enquanto educadores secundários que somos. Então, nos perguntemos: eu comeria do prato que estou servindo aos meus clientes? Eu estou servindo da melhor forma? Eu gostaria que um filho meu comesse o que eu sirvo?
Como tudo na vida humana, a presença do outro (do consumidor) não pode ser desprezada nem colocada em segundo plano, pois, se alguém é necessário para ensinar (preparar as refeições), antes foi necessário alguém para aprender (consumir). Se alguém prepara o prato, só o faz porque sabe que alguém pagará para comê-lo. Há, portanto, uma relação bilateral de dependência.
O professor, no seu fazer educação, assim como qualquer outro profissional em qualquer outra atividade, é isso: alguém que serve alguém. Nada além de um ser humano se encontrando com outros seres humanos. Nós, como educadores que somos, somos mundos. E temos a missão de fazer com que o nosso mundo se conecte ao mundo do outro. Pouco importa quem é esse outro, de onde veio nem o que traz consigo. É um mundo e, como tal, pode ser explorado.
Com o encontro, não digo embate, mas debate. Me refiro a abraços de acolhimento mútuo. Mas, muitas vezes, para que esses abraços ocorram, a gente precisa se desarmar. Mas se desarmar do quê? Do nosso modo de ser, das nossas predileções, das nossas convicções... Enfim, para que esses encontros ocorram, alguém precisa estar disposto a dar o primeiro passo.
Normalmente, esse primeiro passo é esperado por parte do professor, pois é ele quem estudou humanidades, quem teve sua cabeça moldada a aceitar e acolher a todos. Fácil não é, pois, no nosso fazer diário, não deixamos de ser quem somos. Mas, além de “cozinheiro”, o professor é também um condutor. É ele que está à frente, que deve mostrar o caminho, podar os galhos que impedem as árvores de se desenvolverem de maneira saudável.
Por assim dizer, o professor não é apenas aquele que ensina, que cozinha, que abraça, que ouve, que faz análises, mas também aquele que ama. Não com um amor vindo da paixão, mas com um amor vindo da empatia e da compreensão, da capacidade de saber que há muitas formas de dizer que a vida está doendo e que, às vezes, os alunos escolhem a pior delas.
O meu desejo é que todo professor seja capaz de fazer isso e que o faça com ânimo, fé e esperança inabaláveis. Mas, claro, caso ele não consiga, que sejamos com ele aquilo que esperamos que ele seja. Pois todos somos gente. É gente o que fala e o que fica em silêncio; gente o que ensina e o que aprende; gente o que quer e o que despreza.
E se o professor tem a obrigação de preparar o seu melhor prato, é justo que nós também o sirvamos de vez em quando. Afinal, todos necessitam receber aquilo que dão, e isso não é sinal de fragilidade, mas de humanidade. Aquele que não for humano, atire a primeira pedra.
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