Penso, logo escrevo
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Se
escrevo, é porque penso; e, se penso, é porque aprendi a pensar. Mas aprender a
pensar exige tempo, dedicação, determinação e muita coragem. A maioria desiste
antes mesmo de tentar.
Há
quem repita discursos entendidos como lindos e verdadeiros; no entanto, sequer
sabem as origens desses discursos. Curiosamente, tais pessoas, contrariando a
própria definição de inteligência, se declaram críticas, instruídas e até
intelectuais.
Se
agem assim, suponho, é porque têm medo. Ousar pensar diferente do meio estando
nele é algo perigoso e arriscado. O que acontecerá se eu ousar discordar? E se
a minha discordância não tiver sentido e me fizer parecer um ridículo?
Quem
pensa sofre, mas quem defende as próprias ideias sofre duplamente. Pois isso
implica conhecer, reconhecer e, ao mesmo tempo, se colocar numa posição de
juiz. Não no sentido literal, o do julgador que condena, mas o do pensador que
consegue dissecar ideias, preceitos e conceitos sem se deixar contaminar por
eles, nem pelas paixões que eles possam despertar.
Já
conheci muita gente com capacidade de ser alguém, mas que, ao perceber o peso
de ser um indivíduo fora da manada, decidiu adaptar-se ao bando. Afinal, no
bando tem tudo aquilo de que se precisa — do básico ao mais elitista — e tudo
que alguém precisa fazer para usufruir desses benefícios é ser tão somente mais
um.
Mais
um repetidor de mantras, confirmador de teses — por mais esdrúxulas e
infundadas que essas teses possam ser. Mas, para julgar o espírito do
pensamento, se exige bastante: ao menos o suficiente para ser desconfiado, e,
percebendo-se nas misérias humanas, reconhecer que todo puro de aparência quase
que infalivelmente é um sujo de essência.
Mas
sujo em que sentido? O que eu poderia usar, com razoável grau de segurança
intelectual e científico-filosófica, para analisar o nível de sujeira que,
porventura, alguém poderia ter? A princípio, se todos são sujos em alguma
medida, ninguém deveria se julgar limpo. Ainda assim, devemos concordar que há
níveis de limpeza e de sujeira.
Voltamos
então ao começo de tudo, ao ponto onde o pensamento real torna-se o fiel da
balança: a certeza de que, entre as debilidades e virtudes humanas, deve haver
um equilíbrio, e que há um abismo entre o desejo e a realidade manifesta.
Somente
um louco — e não um pensador — negaria a realidade em nome daquilo em que
acredita. E pessoas nesse nível ainda não pensam. Pois, se pensassem de fato,
não ousariam querer impor aquilo que acham contra toda uma estrutura metafísica
e física já estabelecida e imutável.
Não
somos autômatos, mas também não somos autônomos. O que existe e pode ser útil
já existia antes de nós e seguirá sendo o que sempre foi — por mais que, com
sucessivas tentativas e argumentações teóricas, tentemos impor aquilo que
queremos como se fosse a realidade. Isso não é pensar, mas a perfeita definição
da ignorância em seu estado mais puro.
Penso,
e logo existo. Se penso, é porque sei que penso; e, se sou capaz de perceber
que estou pensando e consigo questionar o meu pensamento, estou diante de uma
pequena escada rumo ao caminho do pensar. Lugar no qual não me encontro com a
liberdade, mas com as prisões — e aprendo a contorná-las, sendo que uma hora
estou dentro delas para entendê-las, e, em outras, estou de fora explica-las.
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