Falta de educação não é sinônimo de sinceridade
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Imagem gerada por IA. |
Certamente
você já teve a "oportunidade" de lidar com alguma pessoa que se
autodenomina sincera demais e incompreendida por ser tão "sem papas na
língua".
Gente
assim, normalmente, é intragável. Ou a gente para elas, ou elas, baseadas em
suas convicções e sapiência sobre-humana, nos colocam em muitas
saias-justas.
Recordo-me
de, certa vez, ter ouvido de uns colegas de trabalho que certa moça tinha um
jeito extremamente incontido de falar, e que esse era mesmo o jeito dela — que
não havia nada que a gente pudesse fazer, que a única opção que tínhamos era
aceitar e nos adaptar a ela.
Ou
seja, deveríamos suportar todas as formas de agressão possíveis que, por acaso,
aquela moça decidisse nos direcionar. Entendendo, assim, que o direito dela de
falar nos colocava como reféns irremediavelmente.
Sem
pensar — por ainda ser muito jovem, acredito — eu retruquei imediatamente.
Argumentei que tolerar alguns comportamentos era inadmissível, que há facetas
das nossas personalidades que somente pessoas íntimas devem
"suportar". Curiosamente, ninguém jamais havia feito isso. Pois,
aparentemente, há pessoas com imunidade para falarem todas as barbaridades que
desejarem.
Eu,
como mais um no meio, ainda não me acostumei com certos comportamentos. Há
coisas que, por óbvio, você não fala, independentemente do quanto ache que
pode. Há perguntas que você não faz, porque há assuntos que simplesmente não
são da sua conta. Há coisas que, se fossem do seu interesse, certamente você
saberia. Se não sabe, obviamente, não tem motivos para tal.
O
ponto é que, em situações sociais — em especial naquelas nas quais estamos com
pessoas que não são da nossa intimidade —, necessitamos nos adaptar e nos
adequar pelo bem comum. Ninguém é obrigado, ou deveria ser, a ter que lidar com
a falta de educação que alguns resolvem apelidar de "sinceridade".
Nesta
vida, creio, tudo é válido em matéria de relacionamentos sociais. No entanto,
porém, todavia, não podemos nos esquecer de que o outro não é menos do que nós
e que a boa convivência depende muito mais de saber se comportar do que de
qualquer outra coisa.
Nunca
é demais dizer: intimidade se constrói, e isso exige tempo. A nossa liberdade
para dizer tudo o que queremos a alguém está justamente ligada ao espaço que
ocupamos na vida do outro, à importância que realmente temos e, sobretudo, à
necessidade real de certas palavras.
Claro
que, no nível da intelecção, nos cabe pensar e concluir qualquer raciocínio —
e, até certo ponto, isso é inevitável. Porém, entre o pensar e o falar, existe
o contexto, o direito do outro e a averiguação da necessidade.
Realmente
é necessário falar? Então falemos. Tudo bem ficar calados? Nos calemos. Como
diz o provérbio: até um homem tolo pode se passar por sábio ficando calado.
Boas palavras e lixo emocional não ocupam o mesmo lugar nas prateleiras das
relações. O lixo, você joga fora; o que pode ajudar alguém, você fala.
Não
estou defendendo a censura ou cerceamento da liberdade de alguém, mas
concordemos que tudo na vida requer uma justa motivação. E que há momentos em
que, por questões de cuidado e autorrespeito, não nos é permitido despejar
"nossa liberdade" em forma de veneno e esperar que as pessoas
simplesmente aceitem.
Tudo
consiste, por isso, em exercer empatia, pois há palavras que, mesmo sendo bobas
em determinados momentos, em outros — e para certas pessoas — possuem o
potencial de serem destrutivas. Além disso, não vale a pena desgastar-se e
desgastar os outros em nome de uma suposta razão ou verdade a ser dita. Aliás,
mesmo a verdade precisa ser dita a quem quer ouvir — e apenas no momento certo.
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