Quando a influência pesa mais que a razão
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Imagem gerada por IA. |
Você
certamente ouviu falar da história envolvendo uma eminente pessoa religiosa e o
funcionário de uma rede de lojas de elite, que tomou as redes sociais nesta
semana.
O
entreveiro se deu após o religioso utilizar-se de sua fama e influência para
cobrar os supostos direitos do consumidor, que ele teria perdido ao tentar
comprar um produto fitness cujo preço diferia entre a oferta e o caixa.
A
celebridade contemporânea, diferente de pessoas comuns, não aceitou ser
desagrada (algo que suponho ser incomum). Após a situação desagradável,
resolveu usar suas redes para "pedir justiça" — a meu ver, vingança.
E o resultado não poderia ser outro: a demissão de um homem trabalhador em
busca de sobreviver.
O
sacerdote deu a sua versão e, num primeiro momento, conseguiu atrair o apoio de
muita gente. O que ele não esperava, no entanto, era que o suposto causador da
ofensa também viria a público se pronunciar.
Jair
(para o desafeto de alguns), o ex-gerente demitido, resolveu expor a sua versão
dos fatos, o que inevitavelmente resultou numa revolta geral. O público, que
até então chorava as dores do global, ficou indignado — e o “santo homem”,
pressionado, sacou a carta da desistência.
Como
sabemos, a figura relevante tem compartilhado seus problemas de ordem
psicológica. O que é muito positivo em termos de conscientização. No entanto,
falou até em desistir, sem dizer exatamente do quê. Tal comportamento, creio,
tenta recolocá-lo no lugar de vítima — posto que perdeu ao ser exposto. Isso,
porém, não justifica suas ações.
O
que o grande público esperava é que ele, como simples ser humano que é, pedisse
desculpas. Afinal, ficou claro que, pelos dados que temos até o momento, está
evidente com quem está a razão — e não é com ele. Mas errar é humano. Tanto
para supostos heróis da fé quanto para gente que exerce um trabalho assalariado
comum.
Liberdade,
hoje, amanhã e para sempre
Vale
ressaltar a importância em termos redes sociais livres e sem restrições à
liberdade de expressão que envolve essa história. Pois, se o gerente e
trabalhador demitido não tivesse o mesmo direito de fala do religioso
influenciador — comum nas telas da potente Rede Globo —, certamente teria sido
relegado à execração pública.
No
entanto, foi a paridade de armas que fez um total desconhecido ter a mesma
relevância em sua defesa pública. Se alguém com quase trinta milhões de
seguidores nas redes pode ser contraditado e exposto por um total anônimo até
outro dia, isso se deve unicamente ao fato de ainda nos restar alguma fagulha
de liberdade e democracia nas redes.
A
questão da patologia psíquica
A
depressão, por mais difícil que seja, explica muita coisa, mas não justifica
absolutamente nada. Pessoas deprimidas não são egoístas, não vivem buscando ser
tratadas como superiores e, sobretudo, por conhecerem as dores da vida, tendem
a sopesar as próprias ações.
Lamentemos
o fato de o religioso, aparentemente, não entender seu papel nem seu lugar no
mundo. O que ele fez não é digno de nenhuma forma de louvor. Não representa o
cristianismo nem, suponho, a fé que ele diz ter — por mais que eu discorde
teologicamente dela.
O
"bom" dos cancelamentos
Parafraseando
o que disse o jornalista Ricardo Feltrin: o bom dos cancelamentos digitais é
que eles logo se acabam, pois a internet não se alimenta por muito tempo de um
mesmo assunto. Logo, os justiceiros (acréscimo meu) vão atrás de alguém que
ousou errar.
Na
internet, a jornada entre o nascimento e a morte de uma polêmica pode ser de
apenas alguns dias. Por isso, os usuários — sobretudo os influentes — precisam
calcular a força de suas ações. Pois, ao tentar jogar um balde de lama para
cima, é quase certo que o autor da ação seja o primeiro a se sujar.
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